ADULTÉRIO
– Depois que a pílula anticoncepcional entrou para o menu da
burguesia quase não hesito em afirmar: “Mostrem-me um homem de
mais de quarenta anos que nunca foi corno e eu lhes mostrarei um
homem que nunca comeu ninguém”.
Eu
disse quase porque logo depois da pílula apareceu o vírus da
AIDS, que acalmou um pouco as mentes mais chegadas ao adultério.
Acalmou
em termos, naturalmente, pois água morro abaixo, fogo morro acima,
cachorro louco e mulher quando quer dar, ninguém segura.
Mas
há adultérios e adultérios.
João
da Silva, quarenta anos, operário, cinco filhos, salário-mínimo,
morador em Santa Cruz, sessenta quilos, mulato, poucos dentes, sai às
quatro horas da manhã de casa para chegar às seis e meia na
fábrica, viaja num trem da Central lotadíssimo onde teimam em
esmagar diariamente sua unha encravada, fabrica um troço que não
sabe para o que serve, come arroz sem feijão e sem carne e quando
está tomando uma cachaça na esquina o fiscal do gerente berra: “Aí,
hein, seu sacana, fazer hora extra você não quer, mas beber cachaça
você bebe”.
Pois
este homem, que da árvore da vida só colheu os frutos podres, chega
em casa e encontra a Maria, sua mulher, a única coisa que acredita
ser sua nesta merda de vida, dando pra um malandro qualquer.
O
que é que você faria no lugar do João? Matava os dois?
Este
é um tipo de adultério.
Eis
outro: Onofrinho Paranhos Medeiros Albuquerque Zifrulli Lima de
Azevedo, conhecido banqueiro, testa-de-ferro de multinacional,
ex-ministro, sócio do Country Club, ladrão, enfim, é casado com
Glorinha Nascimento Cruz Costalatti Brunsky de Oliveira Rocha,
excelente família, pai embaixador, de prendas domésticas, assídua
frequentadora das colunas sociais de Ibrahim, Zózimo e Cia.
Glorinha
também é puta.
Eis
que é flagrada por Onofrinho, dando para jovem surfista pobre.
O
que faz Onofrinho?
Atenção
para o papo: “Meu jovem, precisamos conversar. De hoje em diante,
pois vejo que você é um rapaz sério, vou te pagar um salário para
fazeres companhia à minha mulher, porque viajo muito. Ela fica muito
sozinha e confio em você para manter afastadas as más companhias”.
Como
vocês vêem, há cornos e cornos.
Mas
nem sempre o adultério foi condenado.
Na
Idade Média, por exemplo, um cavaleiro deveria sentir-se honrado
quando sua mulher desse prum sujeito de estirpe mais nobre.
Num
romance provençal, um cavaleiro repreende sua mulher infiel.
Eis
a resposta dela: “Meu senhor, não há por que se sentir desonrado,
pois o homem que eu amo é um nobre barão, maneja armas como
ninguém, chama-se Rolando e é sobrinho do rei Carlos”.
Resposta
do cavaleiro: “Poderias ter me dito logo, mulher”.
AFRODISÍACO
– Qualquer negócio que sirva para aumentar o prazer sexual. Vem de
Afrodisia, um festival grego em homenagem à deusa Afrodite, a
mesma que emprestou seu nome latino (Vênus) para a camisa mais
famosa do mundo.
Bem
mais famosa que a Lacoste, usada por gente que se amarra em tênis e
em pênis.
Poucas
foram as comidas que em um tempo ou outro não foram consideradas
afrodisíacas: ostras, quiabos, aspargos, cogumelos, tomates
(conhecidos como maçãs do amor em alguns países), bulbos de
tulipa, etc.
Paulinus,
um sacanólogo medieval, recomendava mijo de touro, cristas de galo,
trolha de burro, sangue de pardal e outras delicatesses, cuja
simples menção é suficiente para brochar o locutor que vos fala.
Sangue
menstrual, sangue de antílope, placenta, culhões humanos, esperma
de um jovem lutador misturado com coco de falcão, cérebro ainda
quente de criminosos decapitados (muito em uso na China até as
primeiras décadas deste século) também aparecem cm várias
receitas consideradas antibrochantes desde a época em que o
Kama-sutra foi escrito.
As
amazonas acreditavam que se cortassem uma perna dos prisioneiros, o
chamado membro viril dele ficaria ainda mais viril.
Tanto
acreditavam que usavam esta técnica para elas próprias: amputavam o
seio direito das meninas, certas de que, com isso, o braço direito
receberia nutrimento sanguíneo adicional e ficaria mais forte para
dobrar o arco.
Um
rei cíntio perguntou para a rainha amazona Antianara: “Por que
seus escravos todos não têm uma perna”.
E
a rainha, sorridente: “Os pernetas trepam melhor”.
Mas
se você é um desses caras que já está comemorando aniversário de
impotência, muita gente boa recomenda pó de corno de rinoceronte,
que é vendido caríssimo por toda a África equatorial.
Se
você estiver mesmo a perigo, dê um pulo até Nairobi, mas leve um
especialista consigo, pois a maioria dos vigaristas em vez de corno
de rinoceronte vende mesmo é osso moído de porco, que não mata,
mas também não levanta.
De
qualquer modo o freguês tem que ser muito brocha mesmo pra acreditar
nessas besteiras.
Querem
saber o que funciona? Eu digo: é a mosca espanhola.
Mas
não saiam por aí caçando moscas com o Antoñito el Cambório,
que se estrepou como o seu criador, Garcia Lorca.
Mosca
espanhola é apenas um apelido da cantárida.
Excita
a bexiga, a uretra e, de consequência, os órgãos sexuais.
Vem
sendo usada há séculos, com sucesso, em cavalos e touros que têm
que trabalhar muito.
Mas
tem um troço chato: mata com uma facilidade incrível quando usada
por leigos como vocês.
A
dose que levanta o mastruço é quase a mesma que o abaixa (bem como
o seu dono) para sempre.
A
nux vomica, tão bem usada por Drummond em um dos seus
melhores poemas, mais conhecida como estricnina, apresenta o
mesmo problema: seria um maravilhoso excitante sexual se não matasse
o cliente antes dele poder concluir a bimbada.
Muito
amador acredita que o álcool é um estimulante sexual porque ele
desinibe.
Aceitem
o conselho de um profissional: a hora de encher a moringa não é a
mesma do alpinismo.
O
álcool, quando em excesso, torna o marmotão menos sensível,
ocasião em que ocorre o famoso fenómeno da meia-bomba ou
demi-bombê, como preferem os franceses.
O
único negócio que funciona mesmo é o hormônio masculino conhecido
como testosterona, que aumenta o desejo sexual em ambos os
sexos e, às vezes, é receitado para a cura da impotência total.
Mas...
se tomado por homens potentes pode causar atrofia dos testículos e
se tomado por garotinhas em busca de experiências excitantes, causa
masculinização.
Antes
de tomar, ela se chama Rosinha e depois da dose vira Almeida.
AIDS
– Adquired Immunodeficiency Sindrome ou, de trás para
diante, em português: Síndrome da Imunodeficiência Adquirida.
O
homem gasta em armamento alguns trilhões de dólares por ano.
Gasta
outro tanto em programas espaciais na tentativa de conquistar o
macrocosmo.
Se
nós, terrestres, porém, pretendemos conhecer outros planetas e
outras galáxias algum dia, é necessário que abandonemos por
enquanto o macrocosmo para concentrar nossas atenções no
microcosmo.
Seria
uma lástima que a raça humana deixasse de existir por causa de um
vírus sacana como o da AIDS.
Já
se disse muita besteira sobre este microorganismo e não estou aqui
para engordar a lista dos idiotas.
Poucos
sabem alguma coisa sobre a AIDS e desconfio que esses poucos são os
que não dizem nada.
De
modo que aí vai um conselho: se o leitor é viado ou é chegado a um
viado, pare com o esporte.
Se
não é viado, procure trepar com moças que não gostem de transar,
eventualmente, com viados.
Finalmente,
não use uma camisa-de-vênus.
Use
duas, uma sobre a outra.
E
jogue fora essa seringa!
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