quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

ABC do Fausto Wolff (Parte 2)


ADULTÉRIO – Depois que a pílula anticoncepcional entrou para o menu da burguesia quase não hesito em afirmar: “Mostrem-me um homem de mais de quarenta anos que nunca foi corno e eu lhes mostrarei um homem que nunca comeu ninguém”.
Eu disse quase porque logo depois da pílula apareceu o vírus da AIDS, que acalmou um pouco as mentes mais chegadas ao adultério.
Acalmou em termos, naturalmente, pois água morro abaixo, fogo morro acima, cachorro louco e mulher quando quer dar, ninguém segura.
Mas há adultérios e adultérios.
João da Silva, quarenta anos, operário, cinco filhos, salário-mínimo, morador em Santa Cruz, sessenta quilos, mulato, poucos dentes, sai às quatro horas da manhã de casa para chegar às seis e meia na fábrica, viaja num trem da Central lotadíssimo onde teimam em esmagar diariamente sua unha encravada, fabrica um troço que não sabe para o que serve, come arroz sem feijão e sem carne e quando está tomando uma cachaça na esquina o fiscal do gerente berra: “Aí, hein, seu sacana, fazer hora extra você não quer, mas beber cachaça você bebe”.
Pois este homem, que da árvore da vida só colheu os frutos podres, chega em casa e encontra a Maria, sua mulher, a única coisa que acredita ser sua nesta merda de vida, dando pra um malandro qualquer.
O que é que você faria no lugar do João? Matava os dois?
Este é um tipo de adultério.
Eis outro: Onofrinho Paranhos Medeiros Albuquerque Zifrulli Lima de Azevedo, conhecido banqueiro, testa-de-ferro de multinacional, ex-ministro, sócio do Country Club, ladrão, enfim, é casado com Glorinha Nascimento Cruz Costalatti Brunsky de Oliveira Rocha, excelente família, pai embaixador, de prendas domésticas, assídua frequentadora das colunas sociais de Ibrahim, Zózimo e Cia.
Glorinha também é puta.
Eis que é flagrada por Onofrinho, dando para jovem surfista pobre.
O que faz Onofrinho?
Atenção para o papo: “Meu jovem, precisamos conversar. De hoje em diante, pois vejo que você é um rapaz sério, vou te pagar um salário para fazeres companhia à minha mulher, porque viajo muito. Ela fica muito sozinha e confio em você para manter afastadas as más companhias”.
Como vocês vêem, há cornos e cornos.
Mas nem sempre o adultério foi condenado.
Na Idade Média, por exemplo, um cavaleiro deveria sentir-se honrado quando sua mulher desse prum sujeito de estirpe mais nobre.
Num romance provençal, um cavaleiro repreende sua mulher infiel.
Eis a resposta dela: “Meu senhor, não há por que se sentir desonrado, pois o homem que eu amo é um nobre barão, maneja armas como ninguém, chama-se Rolando e é sobrinho do rei Carlos”.
Resposta do cavaleiro: “Poderias ter me dito logo, mulher”.

AFRODISÍACO – Qualquer negócio que sirva para aumentar o prazer sexual. Vem de Afrodisia, um festival grego em homenagem à deusa Afrodite, a mesma que emprestou seu nome latino (Vênus) para a camisa mais famosa do mundo.
Bem mais famosa que a Lacoste, usada por gente que se amarra em tênis e em pênis.
Poucas foram as comidas que em um tempo ou outro não foram consideradas afrodisíacas: ostras, quiabos, aspargos, cogumelos, tomates (conhecidos como maçãs do amor em alguns países), bulbos de tulipa, etc.
Paulinus, um sacanólogo medieval, recomendava mijo de touro, cristas de galo, trolha de burro, sangue de pardal e outras delicatesses, cuja simples menção é suficiente para brochar o locutor que vos fala.
Sangue menstrual, sangue de antílope, placenta, culhões humanos, esperma de um jovem lutador misturado com coco de falcão, cérebro ainda quente de criminosos decapitados (muito em uso na China até as primeiras décadas deste século) também aparecem cm várias receitas consideradas antibrochantes desde a época em que o Kama-sutra foi escrito.
As amazonas acreditavam que se cortassem uma perna dos prisioneiros, o chamado membro viril dele ficaria ainda mais viril.
Tanto acreditavam que usavam esta técnica para elas próprias: amputavam o seio direito das meninas, certas de que, com isso, o braço direito receberia nutrimento sanguíneo adicional e ficaria mais forte para dobrar o arco.
Um rei cíntio perguntou para a rainha amazona Antianara: “Por que seus escravos todos não têm uma perna”.
E a rainha, sorridente: “Os pernetas trepam melhor”.
Mas se você é um desses caras que já está comemorando aniversário de impotência, muita gente boa recomenda pó de corno de rinoceronte, que é vendido caríssimo por toda a África equatorial.
Se você estiver mesmo a perigo, dê um pulo até Nairobi, mas leve um especialista consigo, pois a maioria dos vigaristas em vez de corno de rinoceronte vende mesmo é osso moído de porco, que não mata, mas também não levanta.
De qualquer modo o freguês tem que ser muito brocha mesmo pra acreditar nessas besteiras.
Querem saber o que funciona? Eu digo: é a mosca espanhola.
Mas não saiam por aí caçando moscas com o Antoñito el Cambório, que se estrepou como o seu criador, Garcia Lorca.
Mosca espanhola é apenas um apelido da cantárida.
Excita a bexiga, a uretra e, de consequência, os órgãos sexuais.
Vem sendo usada há séculos, com sucesso, em cavalos e touros que têm que trabalhar muito.
Mas tem um troço chato: mata com uma facilidade incrível quando usada por leigos como vocês.
A dose que levanta o mastruço é quase a mesma que o abaixa (bem como o seu dono) para sempre.
A nux vomica, tão bem usada por Drummond em um dos seus melhores poemas, mais conhecida como estricnina, apresenta o mesmo problema: seria um maravilhoso excitante sexual se não matasse o cliente antes dele poder concluir a bimbada.
Muito amador acredita que o álcool é um estimulante sexual porque ele desinibe.
Aceitem o conselho de um profissional: a hora de encher a moringa não é a mesma do alpinismo.
O álcool, quando em excesso, torna o marmotão menos sensível, ocasião em que ocorre o famoso fenómeno da meia-bomba ou demi-bombê, como preferem os franceses.
O único negócio que funciona mesmo é o hormônio masculino conhecido como testosterona, que aumenta o desejo sexual em ambos os sexos e, às vezes, é receitado para a cura da impotência total.
Mas... se tomado por homens potentes pode causar atrofia dos testículos e se tomado por garotinhas em busca de experiências excitantes, causa masculinização.
Antes de tomar, ela se chama Rosinha e depois da dose vira Almeida.

AIDSAdquired Immunodeficiency Sindrome ou, de trás para diante, em português: Síndrome da Imunodeficiência Adquirida.
O homem gasta em armamento alguns trilhões de dólares por ano.
Gasta outro tanto em programas espaciais na tentativa de conquistar o macrocosmo.
Se nós, terrestres, porém, pretendemos conhecer outros planetas e outras galáxias algum dia, é necessário que abandonemos por enquanto o macrocosmo para concentrar nossas atenções no microcosmo.
Seria uma lástima que a raça humana deixasse de existir por causa de um vírus sacana como o da AIDS.
Já se disse muita besteira sobre este microorganismo e não estou aqui para engordar a lista dos idiotas.
Poucos sabem alguma coisa sobre a AIDS e desconfio que esses poucos são os que não dizem nada.
De modo que aí vai um conselho: se o leitor é viado ou é chegado a um viado, pare com o esporte.
Se não é viado, procure trepar com moças que não gostem de transar, eventualmente, com viados.
Finalmente, não use uma camisa-de-vênus.
Use duas, uma sobre a outra.

E jogue fora essa seringa!

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