FUDER
– Finalmente! Calma, revisor, que é fuder mesmo! Não é
foder, não! Sei que convencionou-se esta última forma, mas eu acho
muito chato fuder com “u” falando e foder com “o” escrevendo.
Aliás, no meu primeiro romance, as provas tipográficas voltaram
para mim duas vezes, pois eu insistia em escrever o verbo com “u”
e o revisor o devolvia com “o”. Ora, cada um deve fuder da
maneira que melhor entende e sabe.
Creio
que a raiz é latina. Não posso garantir, pois os dicionaristas que
tenho ao meu lado simplesmente ignoram o verbo quer com “u” quer
com “o”.
Acho
que em termos de literatura brasileira não-clandestina fui o
primeiro a utilizá-lo em 1962 em O Acrobata Pede Desculpas e Cai
e acho que é aqui neste verbete que ele faz sua estreia em
dicionário.
No
ABC do Fausto Wolff que publiquei durante anos no Pasquim, a
primeira vez em que escrevi fuder com “u”, o famoso cartunista
Jaguar, que comigo editava o hebdomadário, borrou de tinta as três
primeiras letras e fez um comentário no final: “Artigo censurado
por Jaguar, um burguês hipócrita”. Nem burguês nem hipócrita.
Na época, apenas cagão.
O
que quer dizer o verbo fuder todos sabem. Seu equivalente inglês, to
fuck, provavelmente deriva do alemão ficken (copular).
A
hipocrisia burguesa é um troço tão violento que creio que to
fuck nunca foi usado em literatura não-clandestina até a
publicação de O Amante de Lady Chatterley, de David Herbert
Lawrence, seguido de Ulisses, de James Joyce, e O Trópico
de Câncer, de Henry Miller.
O
primeiro e o último podem ser lidos por quem quer. O segundo hoje
pode ser lido por quem pode. Apenas nas últimas duas décadas é que
o verbo vem sendo publicado na matriz sem que o editor leve um
processo pela proa.
O
lapso mais famoso em relação ao verbo ocorreu no London Times,
de janeiro de 1882, onde um gráfico gozador, depois de reproduzir um
soporífero discurso de um membro do Parlamento, concluiu desta
maneira: “Ao final, o orador declarou-se inclinado a dar uma
fodinha”. Foi despedido, mas entrou para a História.
Nos
Estados Unidos, Norman Mailer manteve a autenticidade dos diálogos
entre os personagens-soldados do seu livro de estreia, Os Nus e os
Mortos, cujo tema era a campanha americana no Pacífico durante a
Segunda Guerra Mundial. Mas usou to fug e fugging em
lugar de to fuck e fucking.
A
atriz Talulah Bankhead, a língua mais ferina do teatro e do cinema
americanos, que andou dizendo que “Katherine Hepburn é o pai de
Audrey Hepburn”, ao ser apresentada a Mailer, foi logo chutando em
gol: “Ah, você é o rapaz que não sabe como se escreve fuder?”
Muito
bem, meus chapinhas e minhas chapinhas, vocês leram até aqui e não
enlouqueceram, não sentiram súbitas ânsias homicidas e nem estão
pensando em assaltar um banco, não é verdade?
Pois
é: fuder, além de inofensivo é salutar (desde que com a mulherinha
certa e de preferência com aquela que amamos), e caso nossos pais
não houvessem fudido nem eu estaria escrevendo e nem vocês estariam
lendo.
É
phoda, que é como se escrevia foda no tempo em que alguns
senadores-constituintes de direita phodiam!
GAY,
John (1685-1732) – Dramaturgo inglês, autor da Ópera
dos Mendigos, na qual Bertold Brecht inspirou-se para escrever a
sua Ópera dos Três Vinténs.
GAY
– Americanismo. Vários adjetivos, tais como excitado, feliz,
alegre, exibido, brilhante, colorido, sociável, agradável,
licencioso, etc. que acabaram por transformar-se em vários
substantivos, todos sinônimos de homossexual, ou seja, pederasta,
sodomita, baitola, perobo, mágico, escondedor, fresco, puto,
xibungo, fruta, qualira, frango e assim por diante.
O
poder colonialista americano é tão grande que hoje gay virou uma
palavra internacional como hotel, táxi ou champanhe.
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