quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

ABC do Fausto Wolff (Parte 26)


FUDER – Finalmente! Calma, revisor, que é fuder mesmo! Não é foder, não! Sei que convencionou-se esta última forma, mas eu acho muito chato fuder com “u” falando e foder com “o” escrevendo. Aliás, no meu primeiro romance, as provas tipográficas voltaram para mim duas vezes, pois eu insistia em escrever o verbo com “u” e o revisor o devolvia com “o”. Ora, cada um deve fuder da maneira que melhor entende e sabe.
Creio que a raiz é latina. Não posso garantir, pois os dicionaristas que tenho ao meu lado simplesmente ignoram o verbo quer com “u” quer com “o”.
Acho que em termos de literatura brasileira não-clandestina fui o primeiro a utilizá-lo em 1962 em O Acrobata Pede Desculpas e Cai e acho que é aqui neste verbete que ele faz sua estreia em dicionário.
No ABC do Fausto Wolff que publiquei durante anos no Pasquim, a primeira vez em que escrevi fuder com “u”, o famoso cartunista Jaguar, que comigo editava o hebdomadário, borrou de tinta as três primeiras letras e fez um comentário no final: “Artigo censurado por Jaguar, um burguês hipócrita”. Nem burguês nem hipócrita. Na época, apenas cagão.
O que quer dizer o verbo fuder todos sabem. Seu equivalente inglês, to fuck, provavelmente deriva do alemão ficken (copular).
A hipocrisia burguesa é um troço tão violento que creio que to fuck nunca foi usado em literatura não-clandestina até a publicação de O Amante de Lady Chatterley, de David Herbert Lawrence, seguido de Ulisses, de James Joyce, e O Trópico de Câncer, de Henry Miller.
O primeiro e o último podem ser lidos por quem quer. O segundo hoje pode ser lido por quem pode. Apenas nas últimas duas décadas é que o verbo vem sendo publicado na matriz sem que o editor leve um processo pela proa.
O lapso mais famoso em relação ao verbo ocorreu no London Times, de janeiro de 1882, onde um gráfico gozador, depois de reproduzir um soporífero discurso de um membro do Parlamento, concluiu desta maneira: “Ao final, o orador declarou-se inclinado a dar uma fodinha”. Foi despedido, mas entrou para a História.
Nos Estados Unidos, Norman Mailer manteve a autenticidade dos diálogos entre os personagens-soldados do seu livro de estreia, Os Nus e os Mortos, cujo tema era a campanha americana no Pacífico durante a Segunda Guerra Mundial. Mas usou to fug e fugging em lugar de to fuck e fucking.
A atriz Talulah Bankhead, a língua mais ferina do teatro e do cinema americanos, que andou dizendo que “Katherine Hepburn é o pai de Audrey Hepburn”, ao ser apresentada a Mailer, foi logo chutando em gol: “Ah, você é o rapaz que não sabe como se escreve fuder?”
Muito bem, meus chapinhas e minhas chapinhas, vocês leram até aqui e não enlouqueceram, não sentiram súbitas ânsias homicidas e nem estão pensando em assaltar um banco, não é verdade?
Pois é: fuder, além de inofensivo é salutar (desde que com a mulherinha certa e de preferência com aquela que amamos), e caso nossos pais não houvessem fudido nem eu estaria escrevendo e nem vocês estariam lendo.
É phoda, que é como se escrevia foda no tempo em que alguns senadores-constituintes de direita phodiam!

GAY, John (1685-1732) – Dramaturgo inglês, autor da Ópera dos Mendigos, na qual Bertold Brecht inspirou-se para escrever a sua Ópera dos Três Vinténs.

GAY – Americanismo. Vários adjetivos, tais como excitado, feliz, alegre, exibido, brilhante, colorido, sociável, agradável, licencioso, etc. que acabaram por transformar-se em vários substantivos, todos sinônimos de homossexual, ou seja, pederasta, sodomita, baitola, perobo, mágico, escondedor, fresco, puto, xibungo, fruta, qualira, frango e assim por diante.

O poder colonialista americano é tão grande que hoje gay virou uma palavra internacional como hotel, táxi ou champanhe.

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