sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

ABC do Fausto Wolff (Parte 4)


BARRYMORE, John (1882-1942) – Sou grande admirador deste cara. Alguns dos nossos “astros” de TV que acham que naturalismo é fazer uma carinha de bunda e dizer “oi, bicho” diante das câmeras, deveriam ver alguns dos seus filmes.
Estou dizendo besteiras, pois a nova geração televisiva é incapaz de pensar uma frase com mais de três sílabas.
Preguiçoso desde criança e porrista a partir dos quatorze anos, John – apesar de ser filho e irmão de atores – partiu para o teatro só porque lhe pareceu um meio mole de sobreviver e porque havia sido despedido de um emprego como caricaturista do New York Times.
Deu o azar de ser bonito, inteligente e talentoso. Isso ninguém perdoa.
O pessoal sacaneava ele e ele sacaneava o pessoal.
De Louella Parsons, a Ibrahim de saias de Hollywood (escreveu que Cidadão Kane era um péssimo filme e que Ronald Reagan era um grande ator), ele disse bem alto numa festa para ela ouvir: “Parece uma teta de vaca velha”.
Embora tenha sido o maior ator shakesperiano do seu tempo e tenha criado para o cinema alguns personagens como Mr. Hyde (Robert Louis Stevenson) e Capitão Ahab (Hermann Melville), o que Barrymore gostava mesmo era de beber e de fuder, não necessariamente nesta ordem.
Só uma vez na vida tentou parar de beber.
Rico e famoso, levou sua filha Diana para um cruzeiro em seu iate do qual foi retirada toda a bebida alcoólica.
Ainda assim ele deu um jeito de permanecer de porre durante toda a viagem: bebeu o álcool do sistema de resfriamento das máquinas.
Para um cara que comeu tantas mulheres, John perdeu a virgindade relativamente tarde: aos quinze anos.
Em compensação, começou comendo a própria madrasta – no caso, uma boadrasta.
Logo depois começou a comer uma vedete famosa, Evelyn Nesbit, que já vinha sendo comida pelo célebre arquiteto Stanford White.
Os pais da moça descobriram tudo e casaram ela às pressas com o milionário psicopata Harry Thaw que, enciumado, matou White com um tiro na cabeça.
A história toda é mostrada no filme Ragtime, dirigido por Milos Forman, no qual Norman Mailer faz o papel do arquiteto.
Barrymore teve que se esconder durante alguns meses até que o caso fosse esquecido.
O homem era um fauno.
Depois de casar duas vezes em New York e excursionar muito pela Europa, se mandou para Hollywood, com um apetite insaciável.
De cara, comeu Talullah Bankhead e, em seguida, Mary Astor, que tinha só dezessete anos.
Mary aparecia na sua suíte aos domingos acompanhada da mãe.
Barrymore mandava a mãe tomar sol no terraço enquanto comia a filha no quarto.
Aliás, parece que o que mais dava em Hollywood nos anos 20 e 30 era mãe cafetinando filha.
Essas filhas, posteriormente, tinham filhos que eram não só filhos da puta como netos da cafetina.
Largou Mary Astor (conforme havia prometido a ela, deu uma declaração pública dizendo textualmente “Eu sou um filho da puta”) por Dolores Castello, que acabou por corneá-lo com seu ginecologista.
Aliás, a turma da gineca (em grego, gineka quer dizer mulher) há anos que, na moita, vem botando cornos na burguesia mundial.
Ou vocês acham que alguém escolhe a profissão de examinar xota gratuitamente?
Já bebendo uma garrafa de gim antes do meio-dia, Barrymore, assaltado pelas ex-mulheres, passou a dedicar-se às putas profissionais.
Durante mais de um mês ficou trancado num bordel em Madras, na Índia, segundo ele praticando com o mulherio todas as posições do Kama-sutra.
Quando casou pela última vez – para variar com uma carreirista – em 1936, já estava aos bagaços.
Ainda assim a mulher obrigou-o a representar ao seu lado.
Barrymore não só esquecia as falas que tinha que dizer como volta e meia mijava e vomitava no palco.
Para quem tratava o fígado tão mal, morreu tardíssimo, aos sessenta anos, deixando uma dívida de 85 mil dólares.
Um padre entrou no seu quarto acompanhado de uma enfermeira com cara de cachorro, feia pacas.
Perguntou a Barrymore se ele tinha algum pecado a confessar.
E o sacana: “Confesso que tenho desejos carnais”.
E o padre, espantadíssimo, pois o ator estava nas últimas: “Com quem?”
E ele, apontando para a enfermeira: “Com ela”.
Inteligente, bonito, talentoso, comedor de grandes mulheres, é claro que no seu enterro não apareceu ninguém, com exceção de uma puta velha que ninguém sabe quem é e à qual presto aqui minha sincera homenagem.

BATHORY, condessa Erzsebeth (1561-1630) – Mulherzinha ruim. Mas ruim mesmo. Entretanto, seus contemporâneos deixaram registrado que “tinha um olhar doce e angelical, profundos olhos azuis que contrastavam com as generosas formas do seu corpo que ao se mover deixava homens e mulheres enlouquecidos”.
Pode ser que algum dia tenha ido para a cama com algum homem.
Mas não deve ter gostado, o que, aliás, foi uma sorte para os homens.
Ela gostava mesmo era de garotas virgens entre dez e dezoito anos.
Gostava de fazer tudo com elas: amá-las e, principalmente, matá-las e bebê-las, literalmente.
Em 1611, aos cinquenta anos de idade, a condessa foi condenada a permanecer para sempre – com apenas três servas para servi-la – em seu castelo nos montes Cárpatos.
Motivo: havia matado mais de seiscentas meninas.
Sociedadezinha canalha a da Hungria do século XVII: o juiz que julgou a condessa não estava irritado com ela por ter matado tantas meninas, mas porque algumas delas eram nobres.
A bem da verdade, Erzsebeth imprimia um espírito de missão à sua tara.
Por exemplo: adorava botar uma virgem aterrorizada completamente nua numa gaiola com afiadas pontas de metal em todos os lados, de modo que a vítima, ao fazer o menor movimento, se cortava toda.
Depois mandava suspender a gaiola e sentava-se embaixo, ocasião em que se masturbava tomando um banho de sangue.
Outra brincadeirinha: mandou fabricar um robô de cujo corpo se desprendiam estiletes que penetravam no corpo das jovens virgens.
O sangue escoava por um cano que ia dar numa panela sobre o fogão, onde era esquentado para o banho da condessa.
E esta cadela – como era rica e poderosa – ainda viveu dezenove anos em seu castelo brincando de mamãe-mamãe com três criadas.
Hoje em dia, na Hungria, os ricos já vão para a cadeia.
No Brasil não vão porque, provavelmente, temos os ricos mais honestos do mundo, não é mesmo?
Quem foi que disse que para se enriquecer no Brasil não é necessário ser inteligente, basta ser simpático e não ter caráter?

BESTIALISMO — Os mais crescidinhos sabem que se trata de atividade sexual entre homens e animais. Um tabu, desde a civilização mesopotâmica, é considerado ilegal em todo o mundo. Quem nasceu, ou ainda mora, na zona rural nunca ligou muito para essa ilegalidade. (“Pois é, seu Tião, estamos aqui comendo a sua vaquinha.”)
Originalmente o ato de comer animais metaforicamente era proibido pelo temor de que, da união pouco convencional, nascesse um produto híbrido do que se convencionou chamar de um coito impuro.
Quem duvidar, vá pegando a sua vaquinha e veja se depois de alguns meses aparece um minotauro, ou melhor, um bagétauro.
De acordo com as leis inglesas, o bestialismo é uma subdivisão do coito anal, pois fala em “relações anormais com homens e animais”.
Outros países, porém, fazem uma distinção mais precisa entre a chamada intermação marmotal e o bestialismo.
Baseiam-se em antigas leis judaicas (Levítico 20: 15-16) que dividem o bestialismo do incesto e do homossexualismo.
O bestialismo sempre foi ilegal, mas nunca deixou de ser popular.
Na maioria dos casos, homens e mulheres comem (ou são comidas) por animais domésticos, estilo gato, cavalo, boi, cabrito, galinha, etc.
Na Roma antiga (e ainda hoje em Hamburgo) mulheres costumavam introduzir na vagina cobras vivas, cabeça primeiro.
Outras punham rabos de peixes vivos e havia ainda as que passavam mel na vulva para atrair moscas que, enquanto comiam o mel, as levavam ao orgasmo.
Na China, o bicho preferido pelos taradões sempre foi o ganso.
Comiam o rabo do ganso e na hora da ejaculação cortavam a cabeça dele que, ato contínuo, contraía o esfíncter, o que prolongava o gozo.
Os árabes, ainda hoje, não consideram perfeita uma viagem a Meca se, no caminho, não executarem o camelo.
Em algumas vilas na Índia é de bom-tom comer Deus, no caso, um babuíno, ou melhor, os homens comem a deusa babuína e as mulheres dão para o deus babuíno.
Na Roma de Tibério valia tudo: o próprio Estado organizava orgias com mulheres, touros, cavalos, ursos, girafas, porcos, etc.
Os esquimós contam um caso de bestialidade (e levando -se em conta o comportamento dos políticos brasileiros, não há por que duvidar): milhares de anos atrás uma mulher se recusava a ter relações sexuais com os homens.
Foi então expulsa para uma ilha, onde trepou com cachorros.
Desta união nasceram os homens brancos que, antes, não existiam.
Bestialista, ainda, de mão cheia foi Zeus ou Júpiter, que comeu Leda na forma de um cisne, comeu Perséfone na forma de uma serpente, transformou Europa numa vaca para depois comê-la onde hoje é o Bósforo (passagem do boi) e assim por diante.
Só não ganhou de Adão.
É isso mesmo: o bestialismo é o desvio sexual mais antigo da humanidade.
Adão comeu todos os animais do Paraíso até que Deus se mancou e resolveu criar a mulher.
Confesso que nas minhas andanças pelo mundo nunca vi nada em matéria de lagostas.

Sempre que eu solicitava às madames dos quatro continentes qualquer coisa do gênero, olhavam-me como se eu fosse um tarado e voltavam para suas cabritas, cachorros e vaquinhas.

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