quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

ABC do Fausto Wolff (Parte 28)


GOGH, Vincent van (1853-1890) – No verbete sobre Goethe pedi auxílio ao Dicionário Universal de Citações de Paulo Rónai, o grande intelectual tupi-magiar. Ele ficou aberto ao lado da máquina de escrever, quando vi de relance que, antes do Fausto, havia um verbete sobre fatalidade e quem o assinava era o meu querido amigo, o humorista Leon Eliachar, covardemente assassinado em junho de 1987 no Rio de Janeiro. Eis o que disse Leon sobre fatalidade: “Tudo aquilo que a gente prevê depois que aconteceu”.
Fiquei gelado, pois, algum tempo antes de ser assassinado a tiros a mando de um fazendeiro do interior do Paraná e cuja mulher fazia visitas costumeiras ao seu apartamento (todos sabem quem é e onde mora o mandante do crime, mas como é rico, não será preso nunca), ele almoçou comigo e Millôr Fernandes.
Na volta me deu uma carona de carro e eu, já não lembro por que, disse a ele: “Leon, se Deus aparecesse e me garantisse dez anos de vida, eu topava. E você?” Resposta dele: “Não topava não, pois quando faltassem uns seis meses para acabar o prazo, eu ia enlouquecer de desespero”. Foi morto quinze dias depois. Sentiram?
Esta história entra no verbete do maior pintor produzido pela Holanda (na minha opinião, maior mesmo que Rembrandt, Bosch e Breughel) pelo seguinte: como Leon, Vincent era carente pacas. Tudo que queria na vida era ser amado por uma mulher. Se apaixonou de tal maneira por Ursula Loyer e equivocou-se tanto em relação ao amor dela que, quando ela lhe apresentou o verdadeiro noivo, ele pirou.
Coitado, todo sábado de manhã caminhava até a casa dela. Eram mais de 45 quilômetros. E ele fazia isso apenas para vê-la de longe. Depois de dormir um pouco na estrada mesmo, voltava a pé para casa. Mais 45 quilômetros.
Um dia Ursula viu que ele a observava e entrou correndo para dentro da pensão da sua mãe. Eu me pergunto o seguinte: será que se esta idiota da Ursula soubesse que menos de cem anos depois da morte de Vincent, os seus quadros seriam vendidos por 40 milhões de dólares, ela o desprezaria da mesma maneira?
Por outro lado: será que Van Gogh seria o pintor que foi se ela o aceitasse, casasse com ele e tivesse filhos?
Um dos artistas mais infelizes do mundo, Van Gogh foi desprezado por todas as mulheres pelas quais se apaixonou.
Meio louco, cortou uma orelha e a enviou dentro de um envelope para uma prostituta pela qual se engraçara.
Nos últimos cem anos, milhares de pintores cortaram as orelhas nos cinco continentes, mas nenhum jamais voltou a pintar como ele.
Acabou dando um tiro na barriga atrás de um monte de merda no quintal de uma fazenda. Tinha trinta e sete anos.

GONORRÉIA – Chateação antiga. Imaginem que foi o médico romano Galeno que cunhou a palavra em 130. Ela não existiria não fora um microorganismo, o gonococo, gostar de se acomodar nas membranas mucosas encontráveis nas áreas genito-urinárias de homens e mulheres. Com exceção de raríssimos casos em que o gonococo vai se instalar nos olhos, a transmissão da gonorréia só é possível através de contato sexual. Isso complica as coisas principalmente para homens e mulheres casados.
Um conhecido meu apanhou uma gonorréia num puteiro quando viajava a negócios. Voltou pra casa, comeu a mulher e só no dia seguinte, quando o pau começou a pingar, foi que descobriu a lembrança que trouxera de viagem.
Por sorte sua, naquela mesma tarde sua mulher tinha que ir ao dentista. Ele passou um pouco antes por lá e já com a penicilina, dose cavalar, nas mãos, convenceu o dentista a dá-la para sua mulher.
Ele também tomou sua dose e, para evitar trepar com a mulher, o que considerava inevitável, arranjou outra viagem de uma semana.
Até hoje, e isso já aconteceu há alguns anos, ela não sabe de nada.
Outro conhecido amanheceu com o pau pingando e se separou imediatamente da mulher, pois fazia anos que só trepava com ela.
Tão ou mais comum que o resfriado em adultos, é impossível dizer quantas pessoas pegam gonorréia por ano, pois a grande maioria se automedica. Entretanto, quando não tratada, em muitos casos ela regride e acaba por si mesmo em pouco mais de um ano.
Nos homens ela é descoberta três dias após o contágio. As mulheres, porém, podem passar meses infectadas sem se darem conta. Eventualmente a infecção progride – quando as condições higiénicas são péssimas – e se transforma em gonorréia de gancho, responsável por lesões epidérmicas e até mesmo pela meningite.
Moisés descobriu a gonorréia entre os judeus e recomendou que suas vítimas fossem mortas.
Sofreram a visita de madame Gonô, entre outros: Abrahão, Tibério, Herodes, Carlos Magno, o papa Alexandre VI, Benvenuto Celini, Richelieu, Casanova (naturalmente), Van Gogh, Nietzsche, Mussolini, Hitler, Kennedy, etc.
De cada cinco homens que nasceram, se tornaram adultos e fuderam, três tiveram gonorréia certamente. Gonorréia vem do latim e quer dizer fluxo de sementes.

GOODWIFE NORMAN (?-?)– Em 1649, os vizinhos dedaram a nossa Goodwife (que quer dizer boa esposa em inglês) Norman e o xerife de Plimouth mandou dois esbirros até a casa dela. Os caras arrombaram a porta e encontraram a Goodwife beijando tudo aquilo que existia entre as pernas de Mary Hammond, de 16 anos, quase tão boa quanto ela. 
Goodwife estava vestida, mas Mary estava com a saia para cima, as pernas bem abertas e sem calcinhas, o que, também, é natural, pois elas ainda não haviam sido inventadas. 
Isto resultou no primeiro julgamento por lesbianismo na América.
As duas foram acusadas de “lude behaviour upon a bed, with divers lascivius speeches also spoken”, ou seja, de se comportarem mal sobre uma cama e ainda dizerem sacanagens. 
Aqueles troços: “Continua chupando, meu bem, que eu vou gozar!”

Goodwife foi condenada a ir para o centro da cidade durante dois meses ao meio-dia e repetir: “Nunca mais chupo buceta”. 
Estranhamente, Mary Hammond foi absolvida. 
Se fosse na cidade de Salem, as duas teriam sido queimadas. 
Tiveram realmente sorte, pois apenas quatro anos depois, na Inglaterra, uma mulher de oitenta e nove anos foi enforcada sob a acusação de... adultério.

ABC do Fausto Wolff (Parte 27)


GENITAIS – Quem disse “são os órgãos reprodutores” acertou. Especialmente os que ficam de fora. Nos homens mais pendurados que nas mulheres, cuja decoração é interna. Na fachada apenas os pentelhos que, geralmente, escondem o clitóris. No caso masculino, os genitais são os testículos, ovos, bagos, culhões, que ficam se movendo dentro do escroto.
Ao contrário da classe dominante brasileira, que possui centenas de milhares de escrotos, cada homem possui apenas um escroto e dentro dele dois testículos.
O outro genital masculino é o pênis, que tem representantes nos três reinos, como ferro (mineral), ganso (animal), quiabo (vegetal). Exemplos: “Fulaninha, se engraçou, levou ferro e agora está grávida”; “Rapaz, tô a periguete: há três semanas que não afogo o ganso”; “Sei não, mas o Reginaldo tem pinta de quem escorrega no quiabo”.
Os genitais femininos, apesar de serem apenas um, são mais. Às ignorantezinhas que me honram com seus olhos apresento agora a vulva.
Eu falei que os genitais, embora dois, eram mais porque a vulva se compõe do romântico monte de vênus (aquele triângulo inchadinho que, depois dos doze, treze anos, se cobre de pentelhos louros, castanhos, pretos, ruivos, lisos ou sararás, dependendo da etnia); do clitóris, labia magiora (aqueles lábios grandes parecidos com roast-beafs, ou seja, bifes grelhados, mas que em verdade são rose-lips, lábios rosados), labia minora, uretra, vagina, períneo e ânus. Este último não deve ser confundido com uma porção de anus pretos em louca revoada.
Quando eu chegar na letra “V”, de vulva, explicarei tudo aquilo que as moças têm e que lhes (nos) dá tanto prazer e elas não sabem.
Por enquanto direi apenas às minhas leitoras que se quiserem ser apresentadas às respectivas vulvas em sua totalidade, devem deitar-se em frente a um espelho de tamanho razoável com as pernas bem abertas e a cabeça levantada. Dizem, mas não provam, que na Bahia tem uma jovem que não precisa deitar e abrir as pernas para ver o clitóris. Fica de pé e olha pra baixo. No lo creo.
Muito antes de Homero narrar as sacanagens entre deuses, semideuses, mortais, aristocratas, seres humanos em geral e militares e políticos, o homem já tentava criar um paralelo entre o tamanho da manjuba e outras características físicas. Aquele negócio: nariz grande = pau grande; boca grande = xota grande. (Aproveito para esclarecer que as xotas que conheci jamais se incomodaram em serem escritas também com “ch”); clitóris grandes = muita siririca ou masturbação.
O que há de certo no ramo é o seguinte:
1) ectomorfos, ou seja, homens altos e ossudos tendem a ter palhações maiores que os endomorfos, senhores troncudos e baixinhos;
2) os americanos aterrorizavam suas mulheres e filhas, logo após a chegada dos escravos à América, com o tamanho das jebas crioulas, que seria descomunal. Cientistas que se dedicam a esta desagradável pesquisa informam que a mala negra só é maior que a caucasiana ou branca quando em posição de descanso;
3) os japoneses que me lêem, por favor, me perdoem, mas vou dedar: o deles é menor, como bem prova o herói (que acaba sem o dele) do filme O Império dos Sentidos. Em compensação, como trepa o pequeninho: no filme dá, pelo menos, umas vinte bimbadas, sem contar os ensaios feitos atrás das câmeras;
4) as vaginas tornam-se, realmente, mais largas com o exercício da maternidade;
5) o tamanho dos órgãos sexuais do homem não tem nada a ver com potência, maior ou menor prazer. Mas uma amiga minha me confidenciou ao ouvido outro dia: “Pode não ter, mas eu prefiro um visual bem visível”.

GESTAÇÃO – O período em que a fêmea carrega a criatura do momento da concepção até o parto. Pode também ser usada como metáfora: “Imaginem que o Ibrahim ficou com este livro em gestação durante trinta anos e saiu esta merda”. Mas a gestação que nos interessa é a primeira.
Na grande maioria dos mamíferos há uma definitiva relação entre o tempo de gestação e o tamanho e peso com que nascerá o rebento. A mulher carrega o feto por nove meses, a égua por onze, as camelas por doze, as girafas por quatorze, os rinocerontes por dezoito e as elefantas (eu sou chato: elefoas) por vinte e dois meses.
Surpreendentemente, o bebê da baleia azul se desenvolve no mesmo período que o bebê do golfinho: dez meses. Já um porquinho-da-índia se desenvolve plenamente em apenas uma semana. Se trepasse o tempo todo, poderia ter ninhadas a cada dezoito dias e teoricamente ter quase 100 mil filhotes em um ano.

GOETHE, Johann Wolfgang von (1749-1832) – Entra aqui por ter escrito o Fausto e, de lambuja, As Tristezas do Jovem Werther, quatorze livros científicos e outros tantos de poesia, além de peças teatrais. Foi ainda o fundador da morfologia e seu trabalho sobre botânica é anterior ao de Darwin. Considerado o Shakespeare da Alemanha, foi, sem dúvida, o homem mais brilhante do seu tempo.
Curioso: era artista, rico e não se sabe de nenhum momento em sua vida que tenha tomado uma atitude canalha. Comeu muitas mulheres ricas, pobres, aristocratas, plebeias, camponesas, urbanas – Charlotee Buff, Katchen Schõnkopf (que, literalmente, quer dizer cabeça bonita), Friederike Brion, Lili Schõneman (que quer dizer homens bonitos), Christiane Vulpius – mas sempre com a maior discrição.
Vivia o tempo todo envolvido com mais de uma, pois aparentemente uma era para adoração e a outra para fuder. Eventualmente compreendeu que podia fazer as duas coisas com a mesma mulher.
Já viúvo aos setenta e quatro anos, propôs casamento a Ultrike von Lewetzov, que ainda não tinha vinte anos. Ela não topou, embora ele garantisse que “cabelos brancos ou não, ainda posso fazer amor”.
Todas as traduções de Fausto que passaram por mim, com exceção da inglesa, de Ralph Tenner, são ilegíveis. Fiquem com este verso de Augusto de Lima:
“Ó Fausto, sonhador Quixote da Ciência/ Quando buscavas ler no livro do futuro/ nos antros da Matéria, o verbo da Existência/ mais absurdo que tu, mais sibilino e escuro/ talvez no seu jardim a mais bela das mulheres/ entre os risos azuis da natureza nua/ regasse a Margarida os brancos malmequeres/ que depois desfolhou por ti, à luz da lua”.
Só para vocês não dizerem que este verbete está bem-comportado demais: uma das muitas amantes de Goethe – Christiane Vulpius – chamava o pau dele de Herr Schönfuss, ou seja, Sr. do Pé Bonito. O motivo do apelido, o velho J. W. v. G. levou para o túmulo.

Finalmente, o verdadeiro Fausto existiu sim. 
Chamava-se Johann Faustus, um mágico, alquimista e astrólogo alemão do século XVI que, desesperado com os limites do conhecimento humano, teria vendido a alma a Mefistófeles em troca da imortalidade. 
Depois de virar peça de Marlowe, virou poema dramático de Goethe.

ABC do Fausto Wolff (Parte 26)


FUDER – Finalmente! Calma, revisor, que é fuder mesmo! Não é foder, não! Sei que convencionou-se esta última forma, mas eu acho muito chato fuder com “u” falando e foder com “o” escrevendo. Aliás, no meu primeiro romance, as provas tipográficas voltaram para mim duas vezes, pois eu insistia em escrever o verbo com “u” e o revisor o devolvia com “o”. Ora, cada um deve fuder da maneira que melhor entende e sabe.
Creio que a raiz é latina. Não posso garantir, pois os dicionaristas que tenho ao meu lado simplesmente ignoram o verbo quer com “u” quer com “o”.
Acho que em termos de literatura brasileira não-clandestina fui o primeiro a utilizá-lo em 1962 em O Acrobata Pede Desculpas e Cai e acho que é aqui neste verbete que ele faz sua estreia em dicionário.
No ABC do Fausto Wolff que publiquei durante anos no Pasquim, a primeira vez em que escrevi fuder com “u”, o famoso cartunista Jaguar, que comigo editava o hebdomadário, borrou de tinta as três primeiras letras e fez um comentário no final: “Artigo censurado por Jaguar, um burguês hipócrita”. Nem burguês nem hipócrita. Na época, apenas cagão.
O que quer dizer o verbo fuder todos sabem. Seu equivalente inglês, to fuck, provavelmente deriva do alemão ficken (copular).
A hipocrisia burguesa é um troço tão violento que creio que to fuck nunca foi usado em literatura não-clandestina até a publicação de O Amante de Lady Chatterley, de David Herbert Lawrence, seguido de Ulisses, de James Joyce, e O Trópico de Câncer, de Henry Miller.
O primeiro e o último podem ser lidos por quem quer. O segundo hoje pode ser lido por quem pode. Apenas nas últimas duas décadas é que o verbo vem sendo publicado na matriz sem que o editor leve um processo pela proa.
O lapso mais famoso em relação ao verbo ocorreu no London Times, de janeiro de 1882, onde um gráfico gozador, depois de reproduzir um soporífero discurso de um membro do Parlamento, concluiu desta maneira: “Ao final, o orador declarou-se inclinado a dar uma fodinha”. Foi despedido, mas entrou para a História.
Nos Estados Unidos, Norman Mailer manteve a autenticidade dos diálogos entre os personagens-soldados do seu livro de estreia, Os Nus e os Mortos, cujo tema era a campanha americana no Pacífico durante a Segunda Guerra Mundial. Mas usou to fug e fugging em lugar de to fuck e fucking.
A atriz Talulah Bankhead, a língua mais ferina do teatro e do cinema americanos, que andou dizendo que “Katherine Hepburn é o pai de Audrey Hepburn”, ao ser apresentada a Mailer, foi logo chutando em gol: “Ah, você é o rapaz que não sabe como se escreve fuder?”
Muito bem, meus chapinhas e minhas chapinhas, vocês leram até aqui e não enlouqueceram, não sentiram súbitas ânsias homicidas e nem estão pensando em assaltar um banco, não é verdade?
Pois é: fuder, além de inofensivo é salutar (desde que com a mulherinha certa e de preferência com aquela que amamos), e caso nossos pais não houvessem fudido nem eu estaria escrevendo e nem vocês estariam lendo.
É phoda, que é como se escrevia foda no tempo em que alguns senadores-constituintes de direita phodiam!

GAY, John (1685-1732) – Dramaturgo inglês, autor da Ópera dos Mendigos, na qual Bertold Brecht inspirou-se para escrever a sua Ópera dos Três Vinténs.

GAY – Americanismo. Vários adjetivos, tais como excitado, feliz, alegre, exibido, brilhante, colorido, sociável, agradável, licencioso, etc. que acabaram por transformar-se em vários substantivos, todos sinônimos de homossexual, ou seja, pederasta, sodomita, baitola, perobo, mágico, escondedor, fresco, puto, xibungo, fruta, qualira, frango e assim por diante.

O poder colonialista americano é tão grande que hoje gay virou uma palavra internacional como hotel, táxi ou champanhe.

ABC do Fausto Wolff (Parte 25)


FREUD, Sigmund (1856-1939) — Outro que só pensava em sacanagens e se soubesse o que os coleguinhas do futuro fariam com suas teorias, principalmente nos Estados Unidos e nos países subdesenvolvidos (onde os ricos têm ainda mais razões para remorsos), teria partido para a clínica geral ou se dedicado apenas ao consumo da cocaína Merck. Mas, como se sabe, não foi assim.
O fundador da psicanálise achava que a cuquinha fundida da burguesia fundira-se por razões de ordem sexual subconsciente. 
Sabem comé, né? Aquele negócio de ver a mãe da gente pelada e achar bom ou ver a mãe da gente pelada levando o maior papo com o leiteiro ou ver a mãe da gente pelada sem levar papo algum com o leiteiro, mas admirando o leite do leiteiro escorrer. 
E depois disso tudo surpreender-se solando uma homenagem à Onan que, por sinal, não era onanista (ver verbete). Esses troços. 
Achava que as filhas queriam dar para os pais e matar as mães e os filhos comer as mães e matar os pais, um negócio desses.
Neurologista, austríaco e judeu, ele notou que seus pacientes histéricos (já falei pra vocês que hister quer dizer útero em grego, né mesmo?) revelavam, através da hipnose ou da livre associação de palavras e ideias, uma porrada de traumas sexuais infantis.
Foi assim que, diante de uma plateia de médicos, ele formulou sua teoria da sexualidade infantil que Krafft-Ebing, menos apressado, classificou de um conto de fadas.
A verdade é que Freud publicou apenas alguns poucos casos, jamais submeteu as suas teorias a quaisquer testes científicos e não foi capaz de apresentar nenhum caso de cura inegável.
Graças a isso e à mediocridade da maioria dos seus seguidores (os mais modernos, nada a ver com cobras como Adler, Jung, Ferenczi, Abraham, Sachs, Klein), a psicanálise hoje é vista como uma anedota em países como a Dinamarca, a Noruega e a Suécia. Em compensação, segue na moda nos Estados Unidos, em Puerto Rico e Assunción no Paraguai, onde os psicanalistas continuam dando injeções de novocaína na consciência da grande burguesia que já está botando pus pelo ladrão.
Um dos melhores estilistas alemães do princípio deste século, Freud, embora não fosse muito chegado a sacanagens (há quem diga que Lou Salomé tentou violá-lo, sem o sucesso obtido com Wagner e Rilke, pelo menos), era um razoável humorista.
Quando, finalmente, a SS deixou que ele se exilasse na Inglaterra, pediram-lhe que assinasse um documento afirmando que fora bem tratado pela polícia de Himmler. Freud disse que assinaria quaisquer documentos desde que pudesse escrever um adendo.
Os gordões teutônicos concordaram e ele escreveu a seguinte pérola digna de Marx, Grouxo, naturalmente: “Aproveito a ocasião para recomendar os serviços da SS para todos os meus amigos e conhecidos”.

FREUD, filhos de – Nome de samba-enredo de minha autoria feito para a Unidos do Cabuçu e que foi vilmente recusado em 1981. Poética, arcádica, singela, lúdica e alvissareira era a minha história. A escola desfilaria com várias alas, como a dos “Anões Travestis”, dos “Autistas Carecas”, “Punheteiros do Poder”, “Babacas de Momo”, “Oligofrênicos do Samba”, “Os Exus de Freiburg”, “Os Apedeutas da Folia”. Eis uma amostra do samba-enredo:
“Eduardo Mascarenhas, analista sensacional/
Anestesiou a consciência/ Da burguesia nacional/
É Freud, é Freud, é Freud!/ Não froidi, não froidi, não froidi!/
E o coito anal/ Já não é mais/ a moda nacional/
Com a mãe menininha/ no Padinho Ciço ele botou,
Oi, oi, oi” (Segue)

FRIGIDEZ – Incapacidade feminina de obter orgasmos. Aqui as coisas se complicam, pois enquanto algumas autoridades médicas garantem que mais de 70% das mulheres são frias, outras dizem que não existem mulheres frias; que o que acontece é que a mulher que se acredita incapaz de ter prazer no ato sexual, ou está mal informada sobre o que é o orgasmo (ver verbete) ou então está trepando com o cara errado.

Enfim: não existe mulher fria; o que existe é mulher malcomida. A maioria dessas de um modo geral tem a tendência de votar com a direita. No Brasil votavam com a UDN, depois com a Arena, PDS e mais recentemente no PMDB, PFL, PL, UDR, etc. Precisamos recuperar essas senhoras!

ABC do Fausto Wolff (Parte 24)


FLAGELAÇÃO – Adepto da flagelação é o cara que pode tanto gostar de chicotear e espancar o próximo ou a próxima como gostar de chicotear e espancar a si mesmo, na maioria dos casos em busca de admitida ou secreta gratificação sexual.
Foi sempre um dos maiores musts da Igreja e em 1349 o Culto dos Flageladores tinha milhares e milhares e milhares (todo mundo escreveu milhares e milhares; eu escrevo milhares e milhares e milhares) de membros que viajavam de cidade para cidade chicoteando-se publicamente para deleite próprio e do distinto público. Até que dava leite!
A moda flagelatória expandiu-se rapidamente por conventos e monastérios e muitos santos e santas católicos tomaram-se populares graças ao zelo com que se aplicavam chicotadas.
O negócio era mais ou menos assim: “Ai meu Deus do Céu, esqueci de fazer a cama hoje de manhã! Acho que vou ter de me dar umas 150 chicotadas!”
E como esqueciam de fazer a cama os santinhos!
No fim do século XVII, porém, o Vaticano decidiu que o pessoal se chicoteava demais e começou a desencorajar a prática do esporte. Mas aí a moda já havia se espalhado pelo mundo, conforme o marquês de Sade tão bem publicizou.
A prática da flagelação era e é conhecida como le vice anglaise no princípio deste século havia em Londres uma mrs. Walters, reconhecida publicamente por pais e mestres uma excelente profissional.
Mas deixemos a boa mrs. Walters falar da sua especialidade: “Primeiro é preciso medir a distância com o chicote na mão. Depois, colocar-se ao lado do menino e da menina malcomportados e começar a chicotear. Bem devagar, mas com decisão. Tenho o maior cuidado para dar as lategadas em lugares diferentes do corpo e, às vezes, seis são suficientes, sempre que aplicadas com força total. Se a falta cometida pelas pestinhas pedir uma punição mais severa eu, depois de chicotear as costas, chicoteio os peitos. No caso da criança berrar, algumas chicotadas extras são aconselháveis. Se um menino ou menina, porém, resiste à dor bravamente, eu costumo dar apenas dez em vez de doze golpes".
Dizem que os clientes da sra. Walters não entendiam por que assim que acabava de aplicar o castigo ela se trancava no banheiro por mais de meia hora e ficava dando gritinhos de prazer.
No Brasil a flagelação (nos outros) é considerada normalíssima, o que explica o tratamento dado pela polícia aos seus hóspedes, principalmente se eles forem negros e pobres.

FRAGILIDADE – Shakespeare disse pela boca de Hamlet, logo no primeiro ato, “Frailty thy name is woman”, e Eugênio da Silva Ramos traduziu para “Fragilidade, chamas-te mulher”, quando seria bem mais literal e eufônico traduzir “Fragilidade teu nome é mulher”.
O bardo de Avon (que não ficava de porta em porta vendendo talco e água-de-colônia) não entendia picles de mulher ou fragilidade.
Em primeiro lugar porque a mulher vive mais que o homem e, segundo torturadores dignos de crédito, suportam com maior estoicismo a dor física.
Em segundo lugar porque a frase deveria ser “Fragilidade, teu nome é cuIhão” ou "Fragilidade teu nome é saco”.
Vocês já repararam que a parte mais importante da anatomia do homem, os seus testículos, são os mais vulneráveis de todo o reino animal? Mais mal situados que os nossos ovos só mesmo o pau do zangão, que uma vez introduzido na vagina da abelha-rainha rompe-se imediatamente e o pobre bichinho sangra até a morte.

FRASIER (1951-1972) – Não estou falando daquele Joe Frasier que primeiro deu e depois apanhou do Cassius Clay. Se o Frasier de que falo fosse um homem, teria oitenta anos, mais ou menos, quando perdeu seu emprego num circo mexicano. Frasier era um leão de dezenove, quase vinte anos, todo fudido, meio cego, sofrendo de artrite e reumatismo, tinha até problemas para caminhar.
Como o dono do circo não tinha mais dinheiro para comprar-lhe comida, acabou dando o velho para o Lion Country Safari, da Califórnia, no dia 13 de fevereiro de 1971. 
Frasier foi para um hospital, onde o trataram até considerá-lo curado, mas ainda assim todo ruim. 
De sacanagem, o pessoal do zoológico colocou-o junto com doze jovens leoas que tinham entre dois e quatro anos de idade.
Digo de sacanagem porque essas leoas já tinham botado pra correr dois leões ainda rapazinhos e extremamente viris. Um deles, o mais metido a Casanova, saiu todo arranhado.
Frasier entrou no espaço reservado às leoas como quem não quer nada. Os tratadores ficaram observando de longe e viram que as fêmeas nem se aproximaram dele.
Na manhã seguinte o encontraram feliz da vida, patas para o ar, deitado no meio do mulherio (leoío?). Chegaram à conclusão que o bicho havia passado uma das noites mais felizes de sua longa vida.
Nos dias subsequentes o pessoal do Lion Country Safari notou que sempre que Frasier demonstrava sinais de estar com fome as doze leoas brigavam para trazer comida para ele. E mais: como não tinha quase dentes, elas mastigavam a carne antes dele metê-la na boca.
Quando ele decidia dar uma voltinha, duas leoas andavam ao seu lado para protegê-lo. A maior parte do dia, porém, ele ficava deitadão, rodeado pelas fêmeas como se fosse um deus.
Gentileão, aparentemente, ele trabalhava à noite com discrição, silêncio e afinco, pois em menos de dezesseis meses as doze leoas deram à luz nada menos que trinta e cinco leõezinhos e leoazinhas.
O sucesso de Frasier como amante ganhou manchetes nos jornais de todo o país, mandaram confeccionar T-shirts com a sua cara estampada e o Congresso decidiu dar-lhe o título de “pai do ano”.
Morreu tranquilo, dormindo, depois de uma boa trepada no dia 13 de junho de 1972.

O senhor aí que está com oitenta anos, não desista. Faça como Frasier: engravide umas trinta e cinco mocinhas e em pouco tempo será o patriarca de uma cidade.

ABC do Fausto Wolff (Parte 23)


FELLATIO e CUNNILINGUS – O primeiro vem do latim, verbo fellare, ou seja, chupar. Prática de se obter satisfação sexual através da estimulação oral do pênis. Cunnilingus vem do latim igualmente, de cunnus, que quer dizer vuIva, e de linctus, ato de lamber. Trata-se do estímulo sexual da vulva (ou do clitóris) com os lábios e a língua.
Espero que muito semi-alfa que julgava que cunnilingus era a prática de lamber cu tenha aprendido definitivamente o que é que deve lamber.
O fellatio geralmente é praticado por mulheres em homens. Há, porém, alguns rapazes de péssimo gosto que preferem performá-lo também.
Nataniel Jebão, nefando cronista do jet set carioca, garante que ouviu um dia este papo de dois executivos cariocas no banheiro do bar do Country Club, do Rio. “Engoles ou cospes?” Ao que respondeu o que estava mamando o caceta do outro: “Engulo porque te amo". Diálogo singelo, digno da novel a das oito da TV Globo.
Quanto ao cunnilingus, é praticado geralmente por homens em mulhes. Há, entretanto, moças de extremo bom gosto que também praticam o esporte, o que, aliás, só aumenta a feminilidade lá delas.
Tanto o fellatio como o cunnilingus são igualmente conhecidos entre a patuleia como Bouchet e Minette. Belos nomes para um casal de gêmeos nascidos de pais francófilos.
Se as feministas tivessem me consultado eu teria sugerido uma gurua para a imperatriz chinesa Wu Hu, que conseguiu algumas vitórias na luta do fellatio com o cunnilingus ou do Bouchet com a Minette.
Para ela, o fellatio era a prova da superioridade e da dominação masculina. Para elevar a condição feminina e diminuir a masculina, ela decretou que “lamber o estame da flor de lótus” era, de todas as manobras sexuais precoito, a mais importante.
Para simbolizar o advento da dominação feminina, Wu Hu baixou uma ordem informando que todos os servidores da corte e todos os dignitários que visitassem o palácio deveriam cunnilinguá-la.
Existem antigas gravuras em que Wu Hu aparece com o seu manto levantado enquanto um homem, de joelhos, presta sua homenagem e uma fila de outros espera a vez.

FÊMEA – Do latim femma, porque em grego é gineka, daí ginecologia ser o estudo da mulher. Se a gentil leitora não tiver pênis e nem for eunuco, pode ter certeza de que é uma fêmea.
Nas sociedades primitivas da África, Ásia, América do Sul e Austrália, descobriu-se que o que os homens mais admiram nas mulheres são seios enormes e grandes lábios (os inferiores) grandes mesmo.
O que menos gostam: bunda pequena e clitóris grande. Em verdade, os clitóris grandes, principalmente quando ficam duros, podem ser perigosos.
Até hoje se considera o Cântico dos Cânticos, de Salomão, que deve ter sido escrito por volta de 400 a.C., o mais belo poema em louvor do corpo feminino. 
Alguns puritanos tentaram interpretar o poema metaforicamente, mas não houve jeito: Salomão não fala em Deus e diz que não há nada melhor no mundo do que fazer amor com a mulherinha amada.

FETICHISMO – Dois fenômenos completamente diversos: 1) uso da magia, no caso do Brasil, despacho, para a realização de algum desejo; 2) uma forma de desvio sexual envolvendo apego erótico a um objeto inanimado ou a uma parte do corpo humano geralmente considerada sem atrativo sexual, como os pés, por exemplo.
Fedor Dostoievski, o torturado autor de Crime e Castigo, gostava de lamber os pés, dedo por dedo, das mulheres com quem ia para a cama.
Aliás, é este o fenômeno que nos interessa, mas, antes de começar a falar nele, é bom dizer que a palavra vem mesmo do português feitiço, que é como os navegadores lusos (cujos descendentes são donos de alguns dos melhores botequins do Rio de Janeiro, como o Veloso, por exemplo, na esquina da Montenegro com Prudente de Morais) chamavam os rituais mágicos dos índios brasileiros e dos negros da África do Sul.
A palavra foi importada pela França, onde virou fetiche, e Freud (conhecido maníaco sexual, primeiro cacique da tribo dos psicanalistas – a única que, infelizmente, não está em extinção), colou-lhe um ismo e deu-lhe uma conotação psicossexual.
O verdadeiro fetichista só consegue atingir o orgasmo com o auxílio do objeto que produz a sua excitação. Qualquer troço pode ser um fetiche, mas os mais comuns são lenços, sapatos, luvas, calcinhas, meias. Em matéria de corpo humano, os fetichistas se amarram em pés, cabelos e pentelhos, principalmente.
Freud bobeou ao tentar associar o fetichismo ao complexo de Édipo ou de castração.
O fetichista é, antes de tudo, um simbolista (não do gênero Cruze Souza e Alphonsus de Guimarães, que eram simbolistas sem serem fetichistas): o objeto simboliza a mulher desejada enquanto eles, no caso delas estarem ausentes, debelam os respectivos palhaços pensando nelas.
Segundo Desmond Morris – O Zoológico Humano –, muitos fetichistas ficam corados diante de um par de sapatos como se estivessem diante de uma mulher nua. Acho que o Desmond está chutando. Outros são, ainda, classificados como discípulos do Dr. Masoch (ver verbete), pois adoram ser dominados pelo sexo oposto.
Krafff-Ebing (ver verbete), taradão enrustido, conta um caso engraçado de um sujeito que só conseguia ter uma ereção se a mulher tocasse o seu pau com a pontta do sapato. Mais tarde se casou com uma moça de boa família e impotentou. A mulher foi ao médico e ele aconselhou-a a pendurar seus sapatos em cima da cama. O falso broxa passou a dar três sem tirar de dentro.
Há ainda o caso do garoto que praticava o esporte dos cinco contra um no chão do seu quarto quando sua prima de vinte anos pisou acidentalmente nele com seus sapatos de salto alto. Até hoje, com mais de cinquenta anos, ele comparece ao bordelão da Rua Alice, em Laranjeiras, no Rio, com uma pasta cheia de sapatos de salto alto que vão do número 34 ao 40 que a profissional escolhida deve calçar antes de passear sobre ele. Parodiando Drummond: “Este sapato solto pela cama a pisotear o peito de quem ama”.
É estranho pacas, mas tem muito mais nego do que se imagina cujos países baixos não sobem se a mulher não estiver usando determinado tipo Iuva, colar, sapato, etc. Os fetichistas, de um modo geral, são gente fina.

Alguns, porém, sofrem mais que torcedor do Botafogo, como eu. É o caso do jovem de 13 anos que ejaculou pela primeira vez ao ver uma mulher que carregava uma árvore de Natal cheia de penduricalhos. 
Até hoje ele só faz amor na base do ménage a trois: ele, a mulher e a árvore de Natal.

ABC do Fausto Wolff (Parte 22)


FANNY HILL – Em 1952 meu pai tinha uma barbearia na Avenida Farrapos, em Porto Alegre. A família morava nos fundos. Uma noite, meus pais haviam ido ao cinema, meus irmãos mais velhos a um baile (havia bailes, moças virgens, noivados e bons sambas naqueles tempos) e eu ficara em casa sozinho. Tinha menos de doze anos e comecei a mexer nas gavetas do salão de barbeiro e encontrei um Iivro. É este mesmo que vocês estão pensando: Fanny Hill ou Senhorita Volúpia.
Como não manjava picas de inglês, não sei se a tradução era boa, mas uma rápida olhada fez com que eu compreendesse que eu e a Fanny seríamos amigos durante muito tempo.
Poucos seres humanos bateram tanta punheta como eu dos doze aos quatorze anos lendo este livro proibido escrito por Henry Cleland em 1749 e que é, sem dúvida, a novela erótica mais famosa e mais publicada no mundo. Mais mesmo que a tradução de Richard Burton – o explora dor, não o ator que dividia o cobertor com Elizabeth Taylor – das Mil e Uma Noites.
Cleland a vendeu por vinte libras a um dono de livraria que logo compreendeu o tesouro que tinha nas mãos. Publicou o original e, em menos de um ano, ganhou mais de 10 mil libras. O livro imediatamente foi traduzido para dezenas de línguas e continua vendendo, pública ou clandestinamente, em todo o mundo.
A história é singela: trata de uma jovem que sai do campo para a cidade grande e acaba num bordel, onde se apaixona por um cliente. Até casar com ele a sacanagem deita e rola.
Confesso que me apaixonei por Fanny Hill, quase duzentos anos mais velha do que eu. A traía de vez em quando com a Lady Chatterley do D.H. Lawrence.
Só parei de homenagear Fanny e Lady Chatterley mais de duas vezes por dia quando uma senhora, mãe de um amigo meu, se apiedou das minhas olheiras e me levou pra cama dela. Poucas vezes fui tão feliz na minha vida.
Ah, ia esquecendo: em 1964 Fanny Hill foi publicado na Dinamarca, oficialmente. O editor foi processado e absolvido, o que fez com que um ano depois a Dinamarca se tornasse o primeiro país a abolir completamente a censura. Não é à-toa que vivi lá quase dez anos e tenho uma filha dinamarquesa.

FARAÓ – Botequim pé sujo na Rua do Lavradio, ao lado do famoso Bar Brasil e perto da Tribuna da Imprensa, de propriedade do China. É lá que às vezes me reúno com Machadão, Albino Pinheiro, Ferdy Carneiro, Chico Paula Freitas e outros membros da Academia Boêmia de Letras para conversar fiado e tomar caldo de feijão com cachaça Rainha.
Falar em cachaça Rainha, tremenda sacanagem a tua, hein, ô Severo Gomes, não ter dado nota 10 para ela. Este verbete, entretanto, não é pra falar do Faraó, cujo nome, decidi, é em homenagem ao melhor cartunista do Brasil – Nássara – e sua marchinha Ala-la-ô, mas pra falar de outro faraó, bem mais sacana.
Refiro-me ao Ramsés III, que viveu entre 1.200 e 1.100 a.C.
Por que eu sei que ele era sacana? Porque na biblioteca de Turim está conservado um papiro da vigésima dinastia egípcia.
É a história em quadrinhos mais antiga do mundo e é uma história em quadrinhos de sacanagem , pois alguns dos doze desenhos mostram o faraó sendo carregado para a cama por duas jovens. Uma terceira carrega a sua enorme piroca e uma quarta o aguarda no leito.
Rendo aqui minha humilde homenagem ao velho Ramsés que, em vez de uma história em quadrinhos de guerra (como os desenhos animados de televisão americanos que imbecilizam milhões de crianças diariamente), nos brindou com uma história em quadrinhos de sacanagem, no bom sentido, naturalmente.

FARUK I (1920-1965) – Deste só não se pode dizer que foi um pobre idiota porque foi um rico idiota. Era promíscuo, gatuno, glutão e temperamental. É incrível que o povo egípcio tenha aguentado este filho da puta como rei de 1938 a 1962.
Promíscuo porque, apesar de casado duas vezes e ter tido três filhas, comeu segundo ele – mais de 5 mil mulheres. As que não queriam dar ele mandava raptar e levar para um dos seus inúmeros haréns.
Nenhuma das mulheres com quem foi para a cama (nem ao menos uma atrizinha italiana de terceira com quem estava quando morreu em Roma) disse que ele entendia do riscado. É que embora tivesse 1,83m de altura e 136 quilos de peso, seu pauzinho perdia-se entre as banhas.
Gatuno porque não só roubava do povo em impostos como tinha mais de cem automóveis de luxo, todos pintados de vermelho. Mandou proibir que qualquer cidadão egípcio pintasse carros da mesma cor, para evitar ser aporrinhado por guardas por excesso de velocidade.
Além de roubar profissionalmente o suficiente para encher vários depósitos com dólares, libras, marcos, francos, ouro, prata e pedras preciosas, roubava também amadoristicamente. Pungou, por exemplo, a carteira de Winston Churchill e a espada com que deveria ser enterrado o pai de outro larapio, o xá Reza Pahlevi.
Quando não estava procurando o birro para comer mulherinhas que amarrava à cama, Faruk estava comendo comida. Pela manhã comia duas dúzias de ovos; à tarde peixes e massas; à noite, quilos de came e nos intervalos bombons e leite condensado.
Finalmente, era temperamental. Quando morreu um coelhinho, ficou com tanta raiva que esmagou um gato contra a parede.
Em 1952, quando o gordo sacana tinha trinta e dois anos, o povo do Egito o expulsou. Foi para a Itália onde depois de alguns meses o pessoal do Harry’s Bar, na via Veneto, quando o via aproximar-se com seus óculos escuros, bigode à Sarney e barrigão à Delfim Netto, comentava: “Finge que não vê; lá vem o chato do Faruk”.

Morreu num restaurante aos 45 anos, quando metia uma garfada de macarrão boca adentro. 
Sacana, já foi tarde.

ABC do Fausto Wolff (Parte 21)


EWEN III (845-901) – Já houve uma época em que os reis eram reis por serem os mais inteligentes, os mais corajosos e os mais fortes. Eram respeitados pelo povo, pois estavam à frente dos soldados nos campos de batalha. Nos últimos quinhentos anos, general só morre em guerra por excesso de álcool. Rei, então, nem falar.
Posteriormente inventaram que eram monarcas por graça divina, mas, por via das dúvidas, mantinham-se protegidos por fortes exércitos.
O rei escocês Ewen III era inteligente, forte, corajoso, e, principalmente, sacana. 
Como não havia um escocês que não se mijasse de medo dele, por volta de 875 ele instituiu “o direito da primeira noite”, o que em síntese é o seguinte: um dos seus súditos queria casar com uma súdita, apresentava-a ao rei e se ele a achasse o suficientemente apurada para o seu paladar, a comia (eufemisticamente, é claro) na noite do dia do casamento. 
Só depois o súdito recebia de volta a mulher, geralmente com comentários do rei: “Muito pentelhuda mas boa de rabo”, por exemplo.
Este esporte iniciado pelo bom Ewen foi logo praticado por todos os reis europeus e até mesmo por alguns barõesinhos de merda, até o princípio da Idade Média. 
Nota importante: ir para a cama com uma virgem dava ao rei a certeza de que não pegaria uma gonorréia real.

EXIBICIONISMO – Não confundir com exposição indecente, que é, por exemplo, um ministro da Fazenda explicar na televisão por que não passa de mera ilusão a impressão que temos de que estamos todos os dias gastando mais para comer menos.
São chegadas a um exibicionismo desde a mocinha que tira a roupa em frente à janela aberta, passa pelas strip-teasers e vai até os caras que, profissional ou amadoristicamente, adoram ser vistos nus ou trepando.
Segundo o escritor carcamericano Gay Talese (um especialista no assunto), a principal motivação dos casais que fazem sexo grupal não é a foda em si, mas a oportunidade de se exibirem pelados diante de outras pessoas.
E o que tem de exibicionistas, irmãos! Há mais donas-de-casa na Escandinávia, Alemanha, Holanda, Inglaterra, França, Itália, Espanha, Portugal loucas para serem fotografadas nuas ou posando aos beijos com cachorros, porcos e cavalos que fotógrafos para fotografá-las.
Atrizes de filmes pornográficos como Linda Lovelace (ganhou muito dinheiro dando aulas para mulheres de executivos ensinando como podiam engolir 25 centímetros de piroca), Georgina Spelvin, Seka e outras declararam muitas vezes que só conseguem gozar diante de uma câmera.
Além de José Sarney, Antônio Carlos Magalhães, João Figueiredo, Newton Cruz, Ulysses Guimarães, Ronaldo Caiado, Amaral Netto e outros menos votados falando na televisão, também é expositor indecente (nada a ver com exibicionismo puro e simples) o marmanjo que fica pelado com a intenção de insultar uma mulher.
Engraçado: a mulher ficar pelada com a intenção de insultar um homem não é considerado contravenção, mesmo porque até agora ninguém foi se queixar disso à polícia.
É claro que para o expositor indecente ir em cana é necessário que a parte ofendida, no caso a mulher para quem o taradão mostrou os documentos, prove que o cara tinha intenção de ofendê-la. Caso contrário, qualquer sujeito que esquecesse a janela do quarto aberta podia ser preso.
Também não é considerada exposição indecente o chamado membro viril em estado vítreo desde que coberto por calças ou calções. Cueca não vale. Se jeba dura à vista (mas coberta) fosse crime, metade dos frequentadores de Copacabana, Ipanema e Leblon estariam apanhando sol no pátio da penitenciária Lemos de Brito.
O clássico expositor indecente, segundo Leon Radnizowiks em sua pesquisa sobre ofensas sexuais, tem entre vinte e cinco e cinquenta anos, é casado, bom pai de família, classe média e dono de uma bimbinha de proporções ridículas.
Ao contrário do que muita gente pensa, ele não se excita com a ofensa que pratica, mas com a vergonha e a culpa que sente ao praticá-la.
Depois de exibir a pecinha em público, ele foge do local e se tranca num quarto onde ataca de cinco contra um, se é que me entendem.
De um modo geral o expositor indecente é um cara que tem medo de ser broxa e que, caminhando pela rua, surpreende uma ereção espontânea. Sente, então, a necessidade de mostrar a miniatura para o distinto público.
Como geralmente atacam na mesma área (parques, de tardezinha), é fácil para a polícia patolá-los. Tão fácil que mais da metade da população carcerária condenada por delitos sexuais na Inglaterra e nos Estados Unidos é composta de expositores. Eles podem ser chatos, mas são os mais inofensivos dos tarados.

FALLOPIO, Gabriello (1523-1562) – Tem muito sujeito que acha que manja de buceta ou de vagina, como prefere o pessoal do Tijuca Tênis Club, pois é mais fino. Manjam nada. O pinta que mais manjou deste assunto no mundo foi o velho Fallopio. Tem muito nego que manja do lado de fora. Mas, e do lado de dentro? A mulher tem uma decoração interna das mais complicadas.
Pois o Fallopio, que foi, provavelmente, o mais importante professor de anatomia do século XVI, foi quem descobriu e deu nome às coisas. Ele não só descobriu os tubos que ligam os ovários ao útero (hoje conhecidos como tubos de Falópio, seus idiotas!), como ainda batizou a vagina de vagina, a placenta de placenta e o clitóris de clitóris.
Reitor da universidade de Pádua, de lambuja foi o grande especialista em ouvidos, manjava de botânica (sei do cacófato) como ninguém mesmo e – last but not least – foi o inventor da camisa-de-vênus.
Uma camisona bem grosseira, que parecia mais uma bainha de faca, mas que, em compensação, era impermeável. Salvou muitas vidas durante a primeira epidemia de sífilis.
Sobre este preservativo pioneiro mme. de Sevigné, que era chegada ao esporte, declarou: “Bom para combater infecções; péssimo para fazer amor”.
Uma quarta parte da humanidade está viva hoje graças ao Fallopio e uma outra quarta graças ao velho Alexander Flemming (1881-1955), inventor da penicilina. 
Apesar disso ainda não encontrei ninguém chamado Falópio da Silva.

Gabriel, muitos, mas em homenagem ao anjo que, suspeito, nunca existiu.

ABC do Fausto Wolff (Parte 20)


EROTISMO – É disso que trata este dicionário, praticamente. Já perceberam, né? De modo que passo-lhes o verbete da Enciclopédia Britânica: tema que pretende despertar desejo sexual, tanto em arte como literatura.
A palavra deriva de Eros, que, segundo a Teogonia, de Hesíodo, foi um dos primeiros deuses da mitologia grega, filho do Caos. Posteriormente, teriam feito dele (sempre representado como uma criança com um arco e uma flecha) filho de Afrodite (Vênus), deusa do Amor, com Zeus (Júpiter) ou um dos seus filhos, Hermes (Mercúrio) e Ares (Marte).
Eros (Cupido, na mitologia romana) era deus da paixão e da fertilidade. Seu irmão menos conhecido, Anteros, era deus do amor mútuo.
Compreende-se que Eros seja o deus do amor, pois se não era filho do Caos, era filho da puta, pois Afrodite dava mais que chuchu na serra.
Compreende-se também por que, quando nos apaixonamos por uma mulher, principalmente quando não somos correspondidos, nos comportamos como verdadeiros idiotas. Enquanto que o amor exige inteligência, conhecimento, sensibilidade, a paixão é simplesmente uma doença, uma flechada.

ESPERMA – Mais conhecido entre a plebe ignara como porra. Porra, por sua vez, é usada como vírgula. Sintam só: “Pois é, porra, eu fui falar com a dona, porra, e levei o maior fora, porra, assim não dá, porra!”
Mas, agora, falando sério, porra: esperma vem do grego e quer dizer semente. Ninguém sabe muito bem quantos espermatozóides existem realmente numa ejaculada humana. Fala-se em cerca de 700 milhões por milímetro.
No meu tempo de rapaz era difícil encontrar uma puta que topasse performar um felacio (ver verbete), enquanto que as mulheres da nossa melhor sociedade já eram peritas no ofício. Há as que chupam e engolem e há as que chupam e jogam fora. Muitas das que chupam e engolem dizem que alguns milhões de espermatozóides a mais ou a menos não fazem a menor diferença.
Agora, tem um troço, considerando a complexidade de um único espermatozóide que após o encontro com o óvulo, produz um ser humano, a capacidade dos testículos de criar máquinas tão sofisticadas é realmente um milagre. Por isso não entendo por que os italianos, quando querem insultar alguém, dizem: “Sei un coglione!”, ou seja, “és um culhão!”
É claro que há testículos e testículos (ver verbete): de uns pode sair o espermatozóide que vai produzir os Hitlers e de outros o espermatozóide que vai produzir as Xuxas.

ESTERILIZAÇÃO – Embora eu seja de opinião que a maior parte da nossa classe política, militar, industrial, bancária, jornalística, que vem mantendo o povo brasileiro em estado de semibestialidade, deveria ser capada, este é um verbete que não me agrada. Esterilização é a morte de toda forma de vida. Em microbiologia, um objeto estéril é aquele que não tem microorganismo.
A esterilização pode ser conseguida – em seres humanos – através de métodos sutis, como tratamentos químicos, com calor, frio, radiação ou com métodos grossos, tais como cortar o pau e o saco de um indivíduo.
Na medicina moderna, se trata de uma cirurgia que obstrui os tubos através dos quais o esperma passa para completar a fertilização. No homem é conhecida como vasectomia e na mulher como esterilização tubal. No caso dessa cirurgia, as glândulas sexuais permanecem intactas e nem o apetite nem o ato sexual sofrem qualquer ameaça.

EUNUCO – Chato pacas. Aliás, muito mais que chato. Vocês já estiveram na sacada de um 40º andar? Lembram daquele friozinho que vai da bulhões de carvalho até a boca do estômago? É mais ou menos o que eu sinto agora escrevendo este verbete. O eunuco é igualzinho a qualquer outro homem só que não tem saco.
A castração era uma forma de castigo muito em moda (como hoje é o rock e o césio ao ar livre) na Síria já no segundo milênio antes de Cristo.
Até o século XIX os eunucos ou sem-saco eram empregados em haréns nos países árabes e na Turquia, na ilusão de que só por não possuírem os escrotos (não confundir com os ex-crotos, que são jornalistas que já foram crotos e hoje vendem a alma e o resto ao poder) eles não podiam trepar.
Teve eunuco que tascou cornos em califas, sultões, xás e outros nomes pelos quais esses galhudos gostam de ser chamados.
Há casos de eunucos, principalmente sopranos italianos, que casaram e tiveram vidas sexuais quase normais.
Agora, chato mesmo é o eunucão. Este não tem jeito, pois castraram-lhe o carvalho junto com os bulhões. Esses rapazes sublimavam (sublimam) a frustração empenhando-se nas carreiras de torturadores e carrascos, geralmente bem-sucedidos.
Os eunucos capados antes da juventude retêm a voz aguda e infantil e a aparência efeminada.
Os hijras, uma comunidade de prostitutos masculinos (perto dos quais nossos travestis são fichinhas), recrutavam jovens aprendizes cuja genitália era removida ainda na primeira infância.
Mas os eunucos não serviam apenas para leões-de-chácara de harém, carrascos, torturadores e cantores de ópera. Há quem diga que houve um que foi chefe de polícia em Istambul ainda no fim do século passado.
Na antiguidade, chegaram a ser generais, políticos e almirantes em muitos estados da África Ocidental. Mesmo assim, eu prefiro ser um jornalista pobre e dotado que um generaI rico e capado.
Os eunucos sempre serviram de conselheiros políticos na China. Desde o período Chou (1122 a.C.) até Mao Tsé Tung acabar com a antiga prática do corte de ovos.
Também atuaram na Pérsia e nos impérios romano e bizantino. Imagine que foi só em 1878 que o papa Leão VIII acabou com a moda de castrar crianças para que fizessem bonito nos coros gregorianos.
Houve também malucos que, interpretando mal um texto de Mateus, cortaram os documentos na crença de que estava cumprindo a vontade de Deus.

No dia que este esporte voltar a ser in, vocês não verão ateu mais fervoroso que eu.

ABC do Fausto Wolff (Parte 19)


ELIZABETH I (1533-1603)Última rainha da dinastia Tudor, filha de Henrique VIII e de Ana Bolena, dirigiu com hábil autoridade os destinos da Inglaterra durante quarenta e quatro anos. Seu recorde só foi batido pela rainha Vitória. Ou tinha o hímen tão fundo que nenhum pau chegava lá ou morreu virgem mesmo. Sacanagem!
Ao contrário do que Hollywood quis fazer crer há alguns anos num filme com Betty Davies e Richard Todd no papel de Walter Raleigh, ela não era feia. Melhor dito: não era de se jogar fora.
Embora não fosse lésbica, não casou porque não quis, pois príncipes de toda a Europa viviam enchendo o seu saco (digo, os seus ovários) para dividirem a cama com ela.

ÉON, Chevalier Charles Geneviève de (1728-1820) – Figurinha muito estranha esta. Menos de 1,60m de altura, imberbe e redondinho nos lugares certos. Dizem que foi exatamente por causa dessas características femininas todas que o rei Luiz XV, da França, fez dele, que era um oficial do exército e um diplomata, um de seus melhores espiões.
E foi vestido de mulher que ele foi mandado em missão à Rússia e, em seguida, à Inglaterra. Ele ou ela fez furor (já houve época em que as pessoas faziam furor, meus caros alunos de jornalismo) em Londres.
Homem ou mulher? Nem o sexo de Mohamed Ali foi tão discutido.
Apesar dos gestos e de voz feminina, d’Éon (o certo é com apóstrofo mesmo; eu é que não quis deixar o apóstrofo sozinho ali em cima e colei-lhe a letra “e”) jamais levou homem algum para a cama. Não, também não foi levado para a cama por homem algum. Por outro lado, também não se sabe de nenhuma mulher que ele tenha cantado.
Em pouco tempo, Londres inteira (os que tinham grana para essa bobagem, é claro!) estava apostando os tubos!
Em 1774 as apostas nos bookmakers superavam a nada modesta cifra de 120 mil libras. As apostas eram de que d’Éon era mesmo uma mulher.
Os mais apressadinhos perguntarão: “E ninguém tinha peito para pegar o homenzinho na marra e verificar os documentos ou a falta deles?”
Eu respondo: é que d’Éon, embora vestido de mulher e com a carinha de uma Brigite Bardot pré-napoleônica, era macho pacas. Nego que tentasse apatolar não vivia pra contar se havia apatolado alguma coisa. Ele era considerado o melhor esgrimista, não só da França, como da Inglaterra.
As notícias da popularidade do misto de Roberta Close e Madame Satã chegaram até a corte francesa e o rei, temendo que ele entregasse (além de otras cositas...) segredos de Estado, acabou chamando-o de volta e ordenou que usasse trajes femininos até a sua morte.
Enquanto isso, na Inglaterra, o caso chegou aos tribunais. Um sujeito chamado Jacques, que havia apostado uma fortuna no clitóris e não no pênis de d’Éon, queria receber o seu dinheiro e foi ao tribunal acompanhado de um médico, Dr. Louis de Goux, que informou sob juramento: “Vi os seios de d’Éon e tive prova manual que ela é do sexo feminino”. O juiz declarou d’Éon mulher oficialmente, mas ainda assim ele se negou a ser examinado. E quem é que tinha coragem de chegar perto?
Quando, finalmente, morreu em 1810, já velhinho, o que tinha de nego curioso não está no Punch (popular gibi inglês, ainda hoje). Eis o que disse o cirurgião que examinou o corpo: “Nádegas singularmente redondas (imaginem, logo as nádegas, que são sempre plurais e jamais quadradas ou retangulares), seios grandes, braços, pernas e dedos de mulher, mas com uma pemba de 15 centímetros em posição de descanso”. Pemba esta que o cavalheiro se usou, durante a sua longa vida de travesti, o fez mui discretamente.

EQUUS EROTICUS – Para os semi-alfas, informo: quer dizer cavalo erótico em latim. Eu já ouvira falar desses cavalos, mas nunca vira um até os meus vinte e poucos anos de idade. Nesta época eu costumava visitar a cama de uma atriz que morava na Rua Rainha Elizabeth, no Rio de Janeiro.
O apartamento era pequeno e sobre o armário eu vi uma cela com arreios completos e mais chicotes. Perguntei se ela montava e onde. Explicou-me que a cela era presente de um banqueiro e industrial que, aliás, morreu há pouco tempo. Costumava roubar dos pobres para distribuir o produto do roubo em caviar e champanhe para os ricos. Além disso, gostava de balançar nos galhos das mais diversas colunas sociais.
Ela recebeu e pergunto: “Pra que o presente, meu bem, se eu nem tenho cavalo?”
E o grã-fino, hoje defuntão: “Tem sim, eu”. E começou a relinchar. Só parou quando ela montou nele nua em pelo e deu umas voltas pelo apartamento de sala e quarto.
Explico: ela estava nua em pelo; ele estava ensilhado.
Uma noite, no antigo Sacha’s, este cara sentou-se na minha mesa e encheu tanto o saco de todo mundo que quando o garçom pintou eu pedi: “Um uísque pra mim e um pouco de capim aqui pro doutor”.
Vocês sabem que até hoje não sei se a atriz era freio ou bridão?!
O cavalo erótico, como os mais crescidinhos já devem ter percebido, é o nome de um jogo sadomasoquista no qual um parceiro monta o outro. Existem tanto mulheres-éguas como homens-cavalo. Dizem, mas não provam, que existem homens-éguas e mulheres-cavalos também.
Já foram tentadas inúmeras explicações psicológicas para o fenômeno, mas o mais provável é que a submissão semi-animal agrada tanto ao cavaleiro como à montaria, e o ato de cavalgar dá ao cavaleiro uma excitante fricção na região genital.
Geralmente, cavalo e cavaleiro limitam-se a montar um no outro. Há, porém, masoquistas mais sofisticados que exigem a humilhação máxima: querem ser selados e montados por alguém que use botas, espora e chicote.
É quando o equus eroticus se transforma num coquetel de sadomasoquismo, fetichismo e bestialismo.
Eu perguntei para a atriz por que o banqueiro gostava de ser montado. E ela: “Este cara é tão ladrão – e sabe que é ladrão! – que eu acho que se trata de uma forma que ele encontrou para pagar os pecados dele”.
É isto aí, leitorinha: quando for a uma festa de grã-finos, leve alguns cubinhos de açúcar e ofereça aos cavalheiros. Aquele que aceitar e começar a tremer os lábios, pode ter certeza: é cavalo!

EREÇÃO – Falar sobre pau é um troço muito chato, mole ou duro. De modo que vou rápido com isto: na adolescência e juventude – segundo Kinsey –, é possível manter o pau duro por horas, desde que devidamente estimulado.
Dos setenta anos em diante o máximo que alguém consegue mantê-lo meia-bomba é sete, oito, no máximo dez minutos.
Olhe pra baixo: se ele estiver duro você teve uma ereção. Se estiver mole é capaz de nunca mais levantar. Esses troços acontecem!